sábado, 21 de março de 2009

Página Branca - Ponto Final

Ryan chegava a casa, ainda ressentido do acidente, mas talvez um pouco mais aliviado. Outrora, estava muito confuso e isso estava a matá-lo. Aquele beijo tinha um sentido especial, aquele beijo foi o perfeito para conseguir escrever.
Sentou-se na secretaria e finalmente as palavras fluíram, a caneta começou a deslizar sem medo e sem que a força dos dedos fosse muito necessária. Os minutos foram passando, mas ele nem dava pelas horas passar. O tempo era um menino e a tinta corria por páginas e páginas, com uma rica história de amor.
(Instantes mais tarde)
- Porquê? Porque é que fizeste isto comigo.
- Desculpa, não foi por mal, eu não te queria magoar, estava confusa e cedi ao impulso.
- Então para ti a vida é feita de impulsos, e depois não te importas se magoas alguém.
- Não tive a intenção, precisava de saber o que sentia por ti.
- Há formas de se perceber como se gosta de alguém e penso que não é brincando com os sentimentos das pessoas que vamos perceber, já pensaste em mim? Já pensaste como fico eu depois disto tudo?
- Eu percebo que estejas zangado comigo e entendo a tua revolta, mas por favor, tenta entender o meu lado.
- Há alguma coisa a entender?
- Ryan, estás a ser muito injusto.
- Ahah, agora eu é que estou a ser injusto! Só me faltava esta, fazes o que fazes, magoas o meu coração e ainda me atribuis parte da culpa!
- Olha, se não queres entender esquece-me, precisei daquele beijo para poder saber o que sinto por ti, e o que sinto não passa de uma forte amizade. Aliás, considero-te como um irmão, para mim, é assim que te vejo.
Sem olhar para ela e sem dizer nada, Ryan permaneceu em silêncio.
- Não estou para aturar estas infantilidades.
Samantha virou costas e saiu da casa dele, destroçada e angustiada com a atitude daquele rapaz. Enquanto ele, permaneceu quieto. A calma fora-se embora e estava ali impávido sem saber o que fazer.
No dia seguinte, Ryan, foi até à beira rio, passear um pouco tentando colocar as ideias no lugar, um dos sítios que Samantha muito frequentava.
Destino ou não, pareceu-lhe ver uma cara conhecida e ele tomou o rumo nessa direcção.
- Olá, por aqui?
- Olá meu rapaz, como estás? Sim, estou por aqui a pescar.
O velho do hospital tinha saído entretanto e estava ali a fazer porventura aquilo que mais gostava, pescar.
- Então e tu meu caro, que fazes por aqui? Pareces-me um pouco desanimado…humm…pelo jeito, tiveste uma discussão daquelas.
- Como é que você sabe todas essas coisas? – Perguntou Ryan quase que a pensar que ele era algum bruxo ou vidente.
- Apenas experiente. – Rematou com um sorriso. – Vivi o suficiente para perceber as pessoas e no teu caso está tudo bem à vista.
Depois de longos minutos conversando, em que Ryan contou tudo que se tinha passado no dia anterior e após as coisas terem ficado como ficaram, o velho sábio pousando a cana de pesca e olhando seriamente o rapaz disse:
- Lembra-te, conquistar é como ir à pesca e tu, meu jovem rapaz, já pescaste o teu peixe, no entanto, não era o que tu querias. Na pesca isso acontece, por vezes pescas um peixe que não pretendes e ficas um pouco chateado, mas tens sempre duas hipóteses. Primeira, devolves ao mar e devolvas as coisas para onde pertencem, segunda, ficas com ele e aceita-lo independentemente daquilo que seja.
- Não sei se o estou a perceber.
- Então, deixas as coisas como estão e vives como se nada tivesse acontecido e lidas como se não a conhecesses, ou, por outro lado, aceita-la como a tal irmã que nunca tiveste.
O fim da tarde aproximava-se e ele regressava a casa. Não parava de pensar na conversa que tivera durante a tarde e sobretudo, não sabia o que fazer.
Ela não parava de pensar nele e, ainda estava chateada com ele, o que ele lhe dissera fora muito cruel e insensato. Mas, por outro lado, não queria que as coisas ficassem por ali, tinha medo de o perder, medo que ele se fosse embora, medo que ele se esquecesse dela. No entanto, fora isso que ela tinha pedido.
(Momentos depois)
- Ryan, preciso de falar contigo, podes vir cá a casa?
- Ok!
Ryan tomara o caminho para casa dela, mais uma vez repetia aquele caminho que já se tornava parte do seu caminho. Mais uma vez, não se deixava enganar pelos cheiros por onde passava e sabia instintivamente por onde seguir.
- Entra! – Ordenou Samantha afastando-se da porta para o deixar entrar, fitando-o admirada com o facto de trazer consigo uma mochila enorme.
- Desculpa! – Antes de qualquer coisa, Ryan fala algo que tinha atravessado na garganta. – Sei que foi um erro a minha atitude, mas estava magoado, não quis que as coisas fossem assim e sei que errei, por isso, peço desculpa.
- Tas desculpado…
Não deixando acabar ou com que ela dissesse mais alguma coisa, ele chega-se perto dela e dá-lhe para a mão um enorme monte de folhas.
- Isto é para ti!
- O que é isto?
- Um livro que escrevi, mas não publiquei.
- E por que é que me estás a dar isto?
- Porque vou embora…
Olhando para ele, impávida, questiona.
- Vais embora? Como assim? Vais para onde?
- Vou partir, viajar por esse mundo fora, procurar novas aventuras, novos locais novos motivos para viver.
- E…os teus amigos, a vida que tens aqui?
- Aqui ficará, levo comigo as memórias de sempre, levo comigo tudo de bom que vivi e me fez crescer mais, levo comigo as lembranças que vão certamente perdurar no meu coração.
- Tenho pena que vás.
- É o melhor para mim.
Ambos ficam sem palavras a olhar um para o outro. Chega-se perto dela e dá-lhe um beijo na testa. Depois, pega na mochila e parte. Samantha não consegue impedi-lo, fica parada a vê-lo ir.
Vê-o caminhar para sítio incerto, vê-o desaparecer por entre carros e casas. Logo que Ryan fica fora da sua vista ela senta-se e pega no livro que ele lhe deixou. Começa a ler e começa a chorar a cada letra que lê a cada palavra que sente. Ali, estava a história da vida deles, a história de tudo que ambos passaram.
No fim da história reparou numa coisa bastante pertinente. Algumas páginas encontravam-se em branco e a história estava inacabada. Mas, numa página solta encontrou algo para ela, um recado que ele deixou especialmente para ela.

“Já te deves ter apercebido que não termino a história porque não sabia o que vinha depois, não sei o que vai acontecer amanhã, aliás, eu sei que ele nunca vai chegar e como não sei antecipar o futuro, deixo em branco, porque é assim que vai ficar a nossa história. Vou partir e levo-te no meu coração, digo-te adeus mas não é para sempre. Um dia voltarei, eu sei que o futuro se encarregará de nos colocar de novo frente a frente, mas agora, preciso mesmo de partir. Para ti do teu ‘mano’ que nunca te vai esquecer e que te vai amar por toda a vida”

Ryan


FIM



[Foto by Gilad]

5 comentários:

Anônimo disse...

Gostei especialmente do fim, da partida dele e do suspense k isso deixou na historia :) parabens!!! beijinho

Kika disse...

A página em branco?
Continuará?
Da história à realidade...
Tive um "dejá vu"...
Parabéns... não desistas, continua.

Anônimo disse...

Não podia deixar de comentar claro :)... confeso que fiquei algum tempo agarrado a esta pagina, nao só pela historia em si, mas sim a pensar no grande futuro q tens pela frente... espero um dia ficar agarrado assim a um livro teu eheeh.
Desde já os meus parabens ...

Grande abraço do TEU IRMÃO

Carlos Alves

Anônimo disse...

Parabens!!
Está muito bom, um final indicado para o seguimento da historia, fico a ajuardar. Bjs Neuza

Anônimo disse...

Como prometi.. li =)
Lembras quando chorei no teu ombro? Pois bem, não te sei dizer se as lágrimas que correm pela minha face agora são da carga emocional com que tenho levado estes ultimos dias, ou se na verdade, é destas tuas palavras.. ou então se choro por me identificar com algo. Há um capítulo que me fez chorar mais que os outros, mas esse sim foi por ter algo a ver comigo. Dizem que isso é o bom das histórias. Sendo ou não, sabes que estarei aqui para te aplaudir aquando da tua publicação. Apoiar.te.ei sempre.. e direi muito sinceramente tudo o que penso. E por falar nisso.. não gosto particularmente do final, mas os finais nem sempre são como desejamos, aprendi isso com a Vida.
Obrigada por tudo (tu sabes)

Nini (Virginie Bastos)

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