
Nunca se intitularam como grandes pessoas, como indispensáveis, porque na verdade todos podemos viver uns sem os outros, mas também precisamos deles, de vez em quando.
Mas estes dois, viveram o que o tempo lhes deu, tornaram-se amigos na escola, crianças, plenas de energia e espírito, foram crescendo conforme a vida lhes deixava.
Começaram a partilhar muita coisa, a mesa de escola, a estar com os mesmos amigos, a combinar brincadeiras e tardes em que ambos participavam. Um mar de coisas, que diga-se, normal de duas crianças que se conhecem e vivem no mesmo mundo.
Aliás, é a história de um rapaz certinho e de um rapaz fora de linha. Um que tirava boas notas, tinha apenas o percurso casa - escola, enfim, era daqueles alunos que qualquer pai se orgulhava. Do outro lado um rapaz, que pouco estudava, queria era brincadeira, perder um fim-de-semana, não para o estudo mas sim, para divertimento, adrenalina, sempre no bom da vida.
Que bela junção! Começou por ganhar o lado mais óbvio, o lado da brincadeira, que não lhe chamo lado do mal, aliás, é um dos melhores lados na infância, tanto que começou a desviar-se dos estudos. As notas começaram a ter o seu valor e acréscimo, começou a ligar menos ao estudo e inclusive, os dois foram expulsos duma aula.
Era a primeira expulsão do rapaz bem comportado. Como foi isto acontecer? Mas ele nem se interessou por isso, estava a gostar tanto da coisa que nem ligou.
Pode-se dizer que com o tempo, passaram-se anos, por volta de 3 anos, e ele cresceu, conseguiu conciliar tudo, chegando a uma certa idade que sabia comportar com os dois lados, e isso devia ao seu amigo, que lhe mostrou o mundo da brincadeira, o mundo do bem estar. Apesar de tudo, foi bom.
Mas ele continuava igual, continuava apenas na brincadeira, e acabaria por reprovar um ano, dois. Muito complicado.
Um dia, parece que se fez luz, continuavam amigos, nunca o deixaram de ser, nem vão deixar, mas naquele dia algo foi diferente.
Conversa e mais conversa, como faziam sempre nas suas caminhadas para a escola, algo dito por ele, de quem não se esperava, começava a gostar de um determinado tipo de música e isto e aquilo. Bem sei que isso não é grande coisa, mas era música romântica, algo que não era nada normal, começou-se a notar uma nova pessoa nele, um crescer de alguém mais maduro.
Como foi bom, um sorriso para o seu amigo, que pensava que o caso estava perdido e afinal, não! Anos e anos, começou a estudar a tirar melhores notas, a lutar para avançar e não como antigamente, esperando que os outros lhe pudessem ajudar.
Já era bom, alguém se tornar nisso, é muito bom, fazia sentir o seu amigo bem, porque sabia que tinha crescido, sabia que estava agora uma pessoa responsável, depositando outro tipo de confiança.
Surpreendente, no dia em que tudo ficou inacreditável para o seu amigo. Ver que ele estava apaixonado, mas não era uma simples atracção como tantas outras na vida, mas sim, algo que o seu amigo já tinha passado e sentido, que agora era a sua vez de passar por essa situação.
Saber disso, e ouvir aquilo dele fez-lhe sentir um enorme orgulho. Um orgulho de amigos que nunca se consideraram, amigos do peito, amigos prontos para enfrentar o mundo, mas o tempo teve o privilégio de fazer com que isso acontecesse.
Afinal, estavam a enfrentar a chuva juntos, como grandes amigos, batalhando contra o tempo, batalhando tudo que os rodeava, contando um ao outro suas aventuras.
[Foto by Shiper]
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