domingo, 15 de maio de 2011

Estrela Cadente - Parte 10

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 10

- É tão bonito isto aqui!
Sara estava fascinada com a ponte “Pedro e Inês” de Coimbra. No silêncio da noite, era o lugar mágico para se estar. Mesmo no meio da ponte, vendo as luzes reflectidas no Mondego, a cidade que não pára e os estudantes que não se cansam de viver. A Cabra lá no alto bem iluminada todas as noites figura a imagem de um mocho, um mocho de um sorriso eterno para qualquer estudante que lá passa.
Uma imagem tão bela que não há quem não tenha olhos brilhantes diante daquele quadro. Não há fotografia ou vídeo que consiga reter aquela imensidão. Sara percebia isso e deitava-se no chão ao lado de Kevin.
- Costumas vir aqui muitas vezes?
- Algumas, é um lugar especial para mim. – Respondeu Kevin relaxado mirando as estrelas.
- É perfeito. Aqui o mundo é teu, meu…bom, é nosso.
Kevin sorri e inclina a cabeça para lhe encontrar os olhos.- Sim, é nosso!
Ela beija-o e sorri também.
- Certo dia, alguém me disse que os antepassados vivem lá em cima. – Kevin parecia nostálgico e Sara não o quis interromper, ficou apenas à escuta. – Um dia, percebi que as estrelas são como as pessoas. Há umas que brilham mais que outras, umas que são mais tímidas mas com o tempo lá as vemos, umas maiores que outras. Há de tudo. Agora vês poucas, daqui a um tempo, vais descobrir mais e mais. Depois, vais sorrir porque nós somos assim também, uns mais retraídos que outros. Mas se vires, o céu é bonito com todas as estrelas. Tal como a nossa humanidade, somos todos importantes de qualquer forma. Se nos faltar o sol, os planetas do sistema solar vão morrer, o mesmo acontece se faltar alguma estrela. Vai sempre fazer falta para alguém.
Nesse instante, ambos visualizam uma estrela cadente e pedem um desejo. Riem-se e voltam a beijar-se
- Então se tudo é importante nas nossas vidas, explica-me Kevin, porque há pessoas que nos magoam?
- A menos que tenham intenção, elas não fazem por mal. Às vezes acontece, um ser humano erra e isso, pagamos um preço muito alto por o vivermos.
- Um dia gostei de alguém, mas esse alguém traiu a minha confiança, brincou com os meus sentimentos. Isso faz-me ter medo das coisas. Medo que façam de mim uma boneca de trapos. Que me usem e se aproveitem de mim apenas.
- Mas se tiveres medo disso, como vais ser feliz? Se te fechares dentro da tua concha não vai ser fácil viveres coisas boas também. Ser feliz é um risco, podemos ter sorte ou azar.
Sara acabava de amar as suas palavras. A simplicidade com que ele tornava o mundo parecia-lhe mais que mágico.

Mais tarde regressavam a casa, estavam sozinhos e tinham a casa só para eles. Uma das rotinas de Kevin era quebrar o silêncio com música. Nunca estava sossegado sem música. Amava a música pelos sentimentos que lhe dava, ouvia de tudo e para cada momento tinha um estilo. Cada estilo transmitia-lhe um certo estado de espírito e isso ajudava-o a viver melhor.Escolhia Mindy Smith dentro do seu repertório. “One Moment More” começava a tocar e os olhos de Sara começavam a brilhar.
- Tu és um anjo!
- Eu sei! – Respondia Kevin com um sorriso. – Queres dançar?
Sara aceitava de pronto e os dois num ritmo lento começavam a dançar. De olhos fechados e com os corpos juntos. Ouviam apenas a música e sentiam o respirar perto um do outro. Sentiam os corpos colados repelindo os mais profundos sentimentos.
Começaram a beijar-se e isso transformou-se em quedas de roupa. O prazer que os envolvia fazia-os esquecer de todos os problemas do passado. Os medos de outrora eram agora quebrados por promessas de alegria, felicidade e amor.Os corpos uniam-se mutuamente não apenas num acto sexual, mas num ritmo amoroso e melódico. Faziam uma música que jamais poderiam tocar, um trecho que ninguém poderia repetir porque tudo aquilo só teria sentido naquele momento.
Depois de fazerem amor, ficaram juntos conversando um pouco. Sara estava com a cabeça no peito de Kevin e ele abraçava-a segurando-a para não a perder.
- Prometes o sempre?
- Prometo-te o agora, amanhã nunca se sabe.
- Porque não me abres o teu coração?
- Tu sabes, é difícil quando temos medo. Eu sei que tu mereces mais, eu sei que não tenho motivos para ter medo. Mas, simplesmente, não consigo.
- Seria quase perfeito se me amasses…O silêncio abateu-se entre os dois. Gostavam um do outro, mas Sara queria mais, ela começava a exigir o que lhe pertencia. Ele sabia que ela tinha esse direito e tentava, lutava por isso, mas não conseguia. O dilema que abatera sobre os dois era tremendamente forte e implacável.


No dia seguinte, Kevin acorda e encontra a almofada ao lado vazia. Sobre ela um pedaço de papel. Sara tinha-se ido embora sem avisar. Pega nele e lê:

O tic-tac de um relógio faz o tempo afastar-me de ti e ganhar medos, de varias cores e feitios. Medo de poder ser um erro, medo de ficar sem aquilo que não tenho. Medo de te amar.
Saio e deixo-te só, na verdade queria ficar, queria poder adormecer contigo, ver-te descansar numa eterna paz que orgulhasse os meus olhos.
Obrigas-me a recuar quando dou passos de que não tenho a certeza. Vivo num mundo que não conheço e não sei o que vai acontecer a seguir mas adorava saber.
Mas sabes o que e que me causa mais calafrios ao meu coração?
É o facto de pensar na resposta provável que vou ouvir, naquela resposta
que tantas vezes ouvi.
Se a ouvir mais uma vez não sei o que vai ser de mim.
Apenas queria que me amasses.
Só isso.



Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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