Quebras de um sorriso mudo

Quando sentes os ponteiros do relógio quebrarem o ritmo monocórdico da tua vida pensas que tudo acabou. Sentes que as páginas da tua história foram rasgadas e jogadas ao vento num ritmo tão lento.
Um momento tão certo como o de um filme, parece nunca existir. Um segundo onde a paz regula de novo o relógio e devolve a vida que era tua. Aqueles segundos em que parece que acabaste de dizer a coisa mais bonita do mundo e parece ecoar dentro de ti; a melhor e a mais adequada música, preso a esse suspiro de alívio por viveres a vida que gostas.
É ao ver-te partir que olho mais um vez o mundo que me olha todos os dias, o mundo que conhece o meu bem e o meu mal, aquele que sabe quem sou desde o nu às entranhas. Sem me julgar faz todas as pausas para que perceba o quanto a vida pode ser fantástica.
Nesse mundo que nada se assemelha a um conto de fadas, tudo gira sem objectivos, tudo tem apenas o seu egoísmo como mascara das suas almas. Cada um luta por si e cada um mostra aquilo que quer mostrar. Descobrir pessoas formidáveis dentro de corpos que por vezes são tão repudiantes quanto uma larva numa folha de alface.
Como gostava que esses firmamentos se eternizassem. Adorava que as pessoas não se enganassem a si próprias e não fossem contra os seus sentidos.
Mas, já nada é intacto, nada faz sentido. Basta uma gota e tudo perde o equilíbrio, as pessoas choram, outros vivem felizes por isso, a sociedade está-se a matar lentamente. Tão pior que fumar cigarros.
É nesse exacto momento que me abandonas e vejo o sol acenar com um adeus. Longo e desesperado, esperando encontrar-me ali novamente a sorrir para um arco-íris sem cor.
No final do dia, tudo se torna especial e as coisas boas voltam de novo para nós, mesmo que sendo apenas memórias de traços curvos da nossa alegria.
Que a noite te contemple como as estrelas acompanham a lua porque, de facto, ninguém sabe quanto tempo nos resta.

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