domingo, 19 de dezembro de 2010

Uma gota só

Tu já não falas. Sentas-te de novo nesse banco tão sozinha e já nem me olhas. Agora a nossa casa foi destruída e queimada por fotos e pedaços de angústia que se criaram no tempo.
Queria viver no espaço e não ter de ouvir as tuas lamentações e tu preferias que eu lá vivesse para que não tivesses de te sujeitar a um ser tão imperfeito.
Já não temos um lar nem uma casa, já não sabemos onde pertencemos e tu ficas aí tão calada quanto eu a olhar numa direcção que não te cruze. Esses teus olhos vermelhos e pesados de lágrimas que derramam a sólida tristeza de duas almas sem futuro. Já não temos para onde regressar. Já nada é intacto. Foi tudo quebrado.
O pior o vento levou. O melhor desvaneceu-se. Como aquela brisa que chega e vai, como aquele momento que deixa de ser perfeito a certa altura, tudo acaba e nós acabamos – aqui.
A chuva vai aparecer, os céus cinzentos também. Frio e fome, guerras e injustiças. Que venha tudo para perto de nós. Já que nada se constrói para sempre, então que sejamos levados já e que esta minha raiva te consuma tanto a ti como a mim.
A certo momento tudo termina. E nós terminamos aqui, um na frente do outro.
Agora, já não sentimos frio, não sentimos nada. Mas vamos sentir, um forte abraço vai tomar conta de nós e dizer: “vamos lá tentar de novo”.
E assim nunca vamos desistir. Assim tenho um lar e tu também. Esse lar somos nós, eu e tu. Não importa mais nada.
A bravura das justificações não está nas palavras mas nos gestos.

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