Quando um diário não te chegar para incorporar e guardar um sorriso, só o coração resta para palavras tolas. De um tolo, este é o texto do teu sorriso desnorteado:
Certo dia, passeava eu entre multidões e gentes desconhecidas. Gentes da minha terra e totalmente iguais a mim. Mas somos todos únicos, especiais e independentes. Lutamos por sonhos comuns e ideias semelhantes mas queremos sempre um espaço exclusivo num pedaço de céu que não se vê com este tecto.
Este tecto protege-me como a minha mãe de tanta coisa má que há lá fora, dificuldades, medos e pecados. Alguns pecados. Outros proliferam cá dentro, bem dentro de mim.
Só que, há quem não tenha um tecto, há quem não tenha uma casa. Há quem não possa sorrir. Talvez não tenha motivos, mas sorri.
Ficas sem perceber como o faz, ficas sem pensar. Perguntas baixinho e comentas que vive fora de orbita. Mas apenas está a viver.
No final do dia, percebo bem esses sorrisos. No final do dia sou eu que não tenho tudo na vida e ambiciono mais, mas sorrio porque sei que já tenho o suficiente. Temos sempre o suficiente. Esse suficiente pode ser bem pouco. Por vezes, é bem menos que aquilo que pensamos. Por vezes, tão pouco faz de nós incomparáveis seres de luz.
Hoje, deitas-te mais uma vez na tua cama com um sorriso enorme na face, e ris-te desconsolada porque sentes que tens um amigo que gosta de ti. Sabes que ele não se perdeu e está a construir o seu mundo, tal como o teu. Percebeste que afinal sofreste por uma causa honesta e que valeu a pena.
A dor que suportaste torna-se agora o vento que ajuda o barco a velejar sem rumo. O destino é incerto mas agradeço-te porque traçaste a rota certa.
E quando terminares de ler, vais fechar esta carta dentro do teu coração, vais dormir, deitar-te e voltar a sorrir. Todas as noites, só porque nos amamos.
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