sábado, 2 de janeiro de 2010

Boneco de Neve

- Olha mãe, está a nevar!
O mês de Janeiro era suspeito para mais um forte nevão, nada a que não estivesse habituado mas o pequeno Salvador queria um lugar no seu quintal, queria poder fazer aquele boneco de neve que nunca fez.
- Posso ir lá para fora?
- Podes filho, tem cuidado!
O pequeno saiu a correr com as luvas na mão ainda por calçar, e foi directo para baixo daquele forte nevão de um Inverno saudável como tantos que vivera. Voltava a juntar todos os flocos que enchiam o chão e o cobriam de um branco puro, um branco igual ao do vestido de noiva que a mãe tinha guardado do seu casamento, igual à pomba que vira no zoológico e que adorou, igual ao papagaio branco que tem em casa e que adora ensinar-lhe coisas novas.
Aos poucos e poucos foi construindo um monte que começou a ganhar forma, aos poucos o seu quintal ia ficando sem neve e o boneco ia ganhando vida.
Cada floco na sua face lhe fazia soltar um espirro, está a ficar constipado, mas queria demais aquele boneco.
A mãe veio para o alpendre e sentou-se nas escadas. Ficou a ver o seu querido filho em busca de neve e mais neve, perdido numa aventura que mais tarde se iria desvanecer.
Pouco tempo depois o boneco estava pronto, duas pedras e uma cenoura, dois galhos e “voilá”, terminava de fazer mais um boneco.
Cansado e satisfeito dirigiu-se para a mãe, sentou-se ao pé dela e com os seus 5 anos perguntou:
- Está feito, gostas?
- Gosto muito, parabéns, mais uma vez esmeraste-te.
- Obrigado, tu sabes porque o faço…podes-me contar como foi?
- Porque queres saber?
- Sinto falta dele.
- Também eu.
- Contas-me?
- A neve pode ser muito perigosa, eu e ele vínhamos de um jantar da empresa onde trabalhava, tu tinhas ficado em casa da avó e estávamos de regresso, mas, uma curva, um momento, um segundo, fez com que o carro fosse embater numa árvore, eu sobrevivi.
- Obrigado, isto alivia-te?
- Um pouco, se vivo, tu és a razão.
- O boneco era para o pai.
- Eu sei, se ele aqui estivesse, teria muito orgulho em ti.
As lágrimas percorreram o rosto de ambos mas o boneco ficou ali, o boneco era os olhos do pai, orgulhoso de ver as duas pessoas que mais amava, quando ouviu o Salvador dizer.
- Pai onde quer que estejas, amo-te muito e sinto a tua falta.


[ Foto by Elmo Head ]

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