domingo, 22 de agosto de 2010

1907

Sangue. Vermelho. Lenço.
Porque raio acordei eu assim esta manhã?
Um lenço ensopado de marcas avermelhadas de um sangue meu. Sangue do meu corpo, de uma tonalidade de vida. Alguém morreu.
Os choros que penso na minha mente e o sorriso que se rasga dá-me a notícia. Novidade não é, mas é actual.
Longos anos que desapareceram esta manhã. Os choros de quem perdeu o imperdível. Esta manhã, o sol trazia uma tempestade dentro de tantos corações que não possuem a capacidade e a força de uma alegria de quem se perdeu.
Aquela face amarelada tão sossegada e triste não parece transparecer a senhora que outrora foi. Aquilo que se vive com as pessoas é sempre único e só eu sei aquilo que ela me deu e aquilo que ela me ensinou. Por vezes revoltamo-nos com coisas por nada e, no fundo, com ela aprendi que por vezes devemos ter alguma calma e paciência.
Mostrou-me que todos que lhe fizessem bem, ela agradecia-lhes. Ela não deu o exemplo de como amar, mas do que amar. Ela sabia quem estava ao lado dela e quem não estava. Foi em paz e sossegada. Fez as suas preces e foi levada, talvez pelo seu Deus em que tanto acredita.
Já não sou dessa geração e já não vivi tanto como muitos viveram. Mas o pouco que ela me roubou, sinto-o em mim com tanta força que me faz sorrir.
Não choro como tanta gente faz porque é difícil chorar quando um jovem rapaz se lembra, dos seus nove anos, da tremenda dificuldade para lhe ganhar num jogo de cartas, mesmo fazendo batota. Das histórias partilhadas e das que foram contadas.
Por vezes, o importante não é o facto como explicamos as coisas que tem importância, mas o modo como as vemos. Se alguém se sentar no lugar dela vai perceber. Experimentem 10 minutos sentados no meio de uma multidão. Tentem perceber tudo que se passa à vossa volta e, depois, encontrem o sentido de como as coisas funcionam.
Esse tempo é suficiente para se perceber aquilo que temos à nossa volta, com quem podemos contar e quem nos ama de verdade. Ela no silêncio dos seus verdes olhos fundo que – hoje – mais fundos estavam, entedia perfeitamente o mundo que a rodeava.
No seu coração leva consigo a gratidão de uma batalhadora. Levo pedaços de amor de quem lhe quis bem, de quem perdeu o seu tempo. Na verdade, não perdeu – investiu.
Um minuto com ela tornou-se, praticamente, numa acção repetitiva a cada dia que passa. Os meus pais amaram-me a mim e, um dia, vou retribuir-lhes aquilo que me deram. Ela semeou amor por muito lado, e colheu frutos disso.
Feliz, saudável e forte. É o sorriso de quem não esquece as lágrimas de alegria que a idade já viu passar.

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