quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Alquimia de um velho

São os traços de uma caneta. Traços banhados em alegria que desprendem um sorriso. Esse sorriso maravilhoso a que te acostumaste e aprendeste a viver.
Na inquietude dum lago, soubeste escolher o melhor lugar para teres a melhor paisagem. Saboreias cada pedaço de sol e olhar-te dá-me a sensação de que te conheço de algum lado.
É incerto saber onde e o porquê, é injusto ter respostas sem perguntas. Mas os pedaços de pão que lanças todas as manhãs aos cisnes fazem-me pensar um pouco. Acho que talvez seja um livro ou um filme. Vi algo assim nalgum lugar. Lembro-me vagamente do meu filme favorito, era doce e romântico. Partilhei cada momento dele com a minha mulher. Pensar nela leva-me a uma calma dentro deste corpo vagabundo que já não consegue fazer muito mais. Este corpo tornou-se recipiente de uma alma que aguarda apenas o seu fim.
Antigamente escrevia cartas de amor. Numa outra era, eu fazia nascer histórias, ajudava quem necessitava e diziam que tinha queda para isso. O que sempre me interessou foi realmente o verdadeiro amor. Tenho 78 anos e procuro ainda uma razão para esse sentimento. Procuro saber o que realmente é porque, apesar de tudo, foi uma busca que nunca me deu grandes respostas. Tudo se tornou tão incerto num certo momento.
Neste momento, sinto vontade de me sentar com ela. Acho que lhe vou pedir para me juntar a ela se não se importar. Espero que não se importe mesmo. É bonita e volto a frisar que gosto de a ver por ali.
Sem rodeios pergunto-lhe se me posso juntar a ele ao que me responde com um sorriso. Espero ter causado boa impressão, não quero que ela pense que sou um velho desajeitado que vagueia por aí, mas, talvez seja mesmo isso.
Enquanto ela continua a lançar pedaços de pão para os cisnes que me olham com ciúmes, um olhar de fúria mostrando o medo que lhes roube algum pedaço, pelo que me decido em permanecer sossegado naquele banco do parque.
Quando ela termina vira-se para mim e sorri mais uma vez. Levanta-se e prepara-se para me abandonar, foi simpática apesar de não trocar grandes palavras. No entanto, regressa e diz-me:

“Podes-te não lembrar de mim, podes ter esquecido tudo o que já viveste e todo o teu passado, mas se recordares aqui a mulher que tens retém somente uma coisa, amo-te muito e nunca te vou abandonar.”

[Foto by Aliska]

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