Pássaros

Já nem os pássaros me querem ouvir, nem esses que, tanto me escutaram, que, tanto me falaram, que passaram dias em busca da minha voz e opinião, em busca de algo que os ajudasse, agora nem isso.
Estou sozinho, aqui no meio do nada e eles já não querem saber de mim, cantam por ai fora, ouço-os distantes, mas não vêm ter comigo. É como se não tivesse mais comida nem nada para eles, é como se tudo o que podia oferecer, já não pudesse.
Debicam-me como se fosse um estranho, e já não me conhecem. Esqueceram os valores que um dia ensinei, esqueceram aquilo que tanto mostrei de mim. Mostrei parte da minha vida, contei-lhes a história que nela decorria, contei o que gosto e o que não gosto, ensinei o modo de poder ser feliz, mediante as minhas qualidades e defeitos.
Hoje, eles não querem saber, esqueceram tudo isso e, lidam comigo como se nada fosse, lido como se não houvesse passado. Foi tempo perdido, porque gastei o meu tempo para nada, afinal gastei o meu tempo para agora não ter nada, gastei o tempo para no fundo receber, nada.
Salvei a vida de alguns, e apenas dois pássaros vivem, reconhecendo-me. Apenas dois, que tenho pena de não poder fazer mais por eles, mas eu preciso deles também, de um, nada temo nem tenho queixa, aprendeu a viver mediante o que ensinei, aprendeu a viver até melhor que eu, mas aprendeu e vive, outro, vive na mesma luta que eu, de tentar compreender o mundo, mas precisando dele, não o consigo ter, os dias passam e ele nem sequer gere o tempo.
Sei que esse reconhece a sua falta perante mim, sei que sabe que eu sinto a sua falta, mas só o tempo pode ajudar. Nada podemos fazer para que se consiga mais do que se tem, portanto, fico à espera.
Quanto ao resto, são pássaros, que já não me ligam, que já se esqueceram de mim e de quem sou, e eu, guardo-os apenas no passado, se voltarem, serão bem vindos, se não voltarem, serão lição do futuro para cautela de outrem.

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